Incêndio em creche na cidade de Uruguaiana - Rio Grande do Sul

03-05-2016 16:38

19/10/2013 

 

Rio Grande do Sul

 

Todos mortos

Doze pequenos corpos carbonizados foi tudo 
o que restou do incêndio que destruiu a sala 
de uma creche em Uruguaiana

Márcia Villanova, de Uruguaiana

 

Passava de 1h30 da tarde de terça-feira e a temperatura era de 12 graus em Uruguaiana, na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, quando as monitoras Ana Luíza Villela e M.C.M., de 17 anos, colocaram as treze crianças do maternal 2 da Creche Municipal Casinha da Emília para dormir, ligaram o aquecedor elétrico e deixaram a sala. Uma hora depois, os 120.000 habitantes de Uruguaiana receberiam em estado de choque a notícia da mais dramática tragédia já ocorrida na história da cidade. Um incêndio, que começou no aquecedor, destruiu a pequena sala e matou doze crianças de 2 e 3 anos. A 13ª, Matheus Bittencourt Rodrigues, só escapou porque estava sem sono e foi levado para a cozinha da creche para não acordar as outras.

 

 

A imagem mais impressionante ficará registrada na memória de alguns vizinhos e dos homens do Corpo de Bombeiros que apagaram o fogo: no canto da sala oposto ao que estava o aquecedor, jaziam, encolhidos e abraçados sob pedaços de cobertor, seis corpos carbonizados de crianças. As outras seis vítimas estavam deitadas no que restava de seus colchões, num sinal de que haviam morrido asfixiadas enquanto dormiam, antes mesmo de ser atingidas pelo fogo. Nas paredes e espalhados pelos chão, resquícios de brinquedos retorcidos pelo fogo, restos de bandeirinhas de São João e de desenhos de personagens da Turma da Mônica.


Colocar um aquecedor elétrico debaixo do cabide de roupas foi apenas o equívoco mais banal de uma seqüência de erros que detonou o acidente de Uruguaiana. O primeiro aconteceu um dia antes, na segunda-feira, em uma reunião entre a diretoria da creche e as monitoras para determinar a preparação da festa junina do dia 30 de junho. Nesse encontro ficou definido que a cada dia da semana duas monitoras deixariam sua classe e passariam a tarde no centro da cidade arrecadando brindes para distribuir às crianças durante a festa.Todas as hipóteses estudadas pela polícia de Uruguaiana para explicar o início do incêndio estão relacionadas ao aquecedor elétrico. O aparelho pode ter sofrido curto-circuito ou superaquecimento. O mais provável, contudo, é que alguma peça de tecido tenha caído sobre ele e servido de estopim para o fogo. O aquecedor usado pela creche contém uma resistência protegida por uma grade. Quando ligada, a resistência fica incandescente e esquenta o ambiente. Em pelo menos duas ocasiões no último ano, peças de roupas haviam caído sobre o aquecedor, provocando princípios de incêndio sem maiores conseqüências. Como o aparelho ficava sob o cabide em que os casaquinhos das crianças eram pendurados, uma blusa pode ter se desprendido e causado a tragédia.

 

Fumaça preta ? A dupla escolhida para fazer a peregrinação pelas lojas de brinquedos do centro da cidade na terça-feira foi justamente a do maternal 2. Na sua ausência, as funcionárias do refeitório deveriam tomar conta das crianças desta sala. Com um documento em mãos assinado pela diretora, Carmem Marília Lopes Borne, Ana Luíza Villela e M.C.M. saíram no início da tarde para arrecadar os brindes. As doze crianças ficaram dormindo sozinhas com a porta da sala encostada. O menino Matheus, sem sono, foi deixado no refeitório com duas serventes.

Um grupo de vizinhos tentava apagar o fogo com baldes de água enchidos na cozinha e na lavanderia. O incêndio foi controlado antes que atingisse as outras salas. Às 14h45, as chamas estavam debeladas. Para as crianças do maternal 2, era tarde demais. Na semana passada, a polícia tentava entender por que as crianças não abriram a porta e fugiram quando o fogo começou. Uma pista é a proximidade que o aquecedor estava da porta. Se o fogo começou ali, as chamas podem ter impedido que as crianças se aproximassem. Outra hipótese é que a dilatação provocada pelo calor tenha emperrado a porta.
Ninguém sabe a hora exata em que o incêndio começou. Da mesma forma, ninguém ouviu gritos nem choro das crianças.Aparentemente, elas morreram antes que alguém notasse o que estava acontecendo. A primeira a perceber o fogaréu foi a servente Guiomar Martins. Por volta das 2 da tarde, ela dirigiu-se ao pátio externo para recolher as roupas que estavam secando no varal. Foi quando notou a fumaça preta saindo pela janela da sala do maternal 2 e começou a gritar. Cada monitora pegou os meninos de sua classe e correu para a rua. Em meio à confusão, o funcionário José Batista da Silva ainda empurrou a porta do maternal 2, mas não conseguiu abri-la. Os bombeiros foram acionados.

Numa cidade pequena como Uruguaiana, notícias como essa espalham-se rapidamente. As duas monitoras do maternal 2, Ana Luíza e M.C.M. ficaram sabendo da tragédia numa loja de brinquedos. "Quando nos apresentamos como funcionárias da Casinha da Emília, a vendedora tomou um susto e nos disse que a creche estava pegando fogo", conta Ana Luíza. "Fiquei atônita e não acreditei. Ela aumentou o volume do rádio, ouvimos a notícia e voltamos correndo sem saber que o fogo era justamente na nossa classe." Chegando lá, as duas encontraram um cenário de horror. Algumas mães souberam da notícia pelo rádio e correram para o local. Outras moravam tão perto que ouviram as sirenes do Corpo de Bombeiros. Todas tentavam sem sucesso saber o que tinha acontecido com seus filhos. "Encontrei minha filha mais velha gritando: 'Pega o mano, mãe, pega o mano', mas não conseguia encontrá-lo", diz a cabeleireira Sandra Miller da Silva, que só ficou sabendo da morte do filho, João Fernando, quando a lista de vítimas foi lida na porta da creche. 
 

Homicídio culposo ? A creche foi interditada e o governador gaúcho, Olívio Dutra, decretou luto oficial de três dias no Estado. Centenas de pessoas compareceram ao enterro e à missa celebrada em memória das crianças no feriado de Corpus Christi. Os túmulos no Cemitério Municipal viraram destino de romaria. A Creche Municipal Casinha da Emília fica num bairro pobre de Uruguaiana. Tinha 117 crianças matriculadas e nenhum extintor de incêndio nas paredes. São filhos de famílias compostas de empregadas domésticas, zeladores, cabeleireiras e vendedoras.

As investigações, comandadas pela delegada Raquel Peixoto, indicam que houve negligência. Resta saber de quem, se das duas monitoras que abandonaram a classe, da diretora que deu a ordem ou das serventes que não tomaram conta das crianças. Os culpados poderão ser indiciados por homicídio culposo. Para os pais das crianças mortas, a punição dos responsáveis servirá de algum consolo. Mas nada daqui para a frente será capaz de compensá-los pela perda de doze vidas que mal tiveram a chance de começar.

 Fonte: Revista Veja 28/06/2000.

 

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