O Que Fazem os Organizadores Comunitários?

23-04-2013 10:45

Kathy Partridge

   O organizador comunitário David Wilson conversa com moradores de Chicago sobre problemas habitacionais (© Nam Y. Huh/AP Images)

   

Milhões de cidadãos americanos têm recorrido a organizadores comunitários para ensiná-los a pressionar governos a fazer a coisa certa.

    Kathy Partridge é diretora executiva da Fundadores Ecumênicos (Interfaith Funders), rede de doadores religiosos e seculares que trabalham para promover a área de organização comunitária de congregações.

    Na campanha eleitoral presidencial de Barack Obama em 2008, o candidato citou sua experiência como organizador comunitário em Chicago para provar que entendia os problemas dos trabalhadores comuns.

    Seus adversários sugeriram que faltava à organização comunitária “responsabilidades reais” como as de um prefeito ou de um governador.

    Na realidade, o trabalho de um organizador comunitário está repleto de responsabilidades reais.

    Comecemos com a seguinte história: algumas mulheres da vizinhança procuraram o novo “organizador comunitário”. Ouviram dizer que ele dava um jeito nas coisas, e elas, com certeza, viam muitas coisas erradas no bairro — escolas precárias, pontos de drogas, ruas imundas, atendimento deficiente na saúde e muito mais. Sentadas no escritório simples e lotado, elas despejaram suas queixas enquanto o organizador as escutava.

    “Com certeza, são problemas verdadeiros”, concordou o organizador.

    “Bem, o que você vai fazer para resolvê-los?”, exigiram as mulheres.

    Elas ficaram estupefatas com a resposta: “Nada.” E acrescentou: “Esses problemas não são meus; são de vocês.” “Vamos conversar sobre o que vocês vão fazer a respeito deles.”

    Essa história verdadeira resume o que faz e o que não faz um organizador comunitário. O organizador comunitário não “dá um jeito nas coisas” — não presta serviços ou faz discursos impressionantes. O organizador comunitário ataca os problemas e as injustiças de comunidades de baixa e média renda ajudando as pessoas atingidas a agir em conjunto para que elas mesmas façam mudanças. Esse princípio básico é a regra de ferro para organizar-se: “Nunca faça por outras pessoas o que elas podem fazer por elas mesmas.”

    A organização comunitária é a prática deliberada de recrutamento e capacitação de liderança comunitária: unir pessoas para definir problemas, elaborar soluções e pressionar tomadores de decisão a melhorar a vida de um bairro, uma cidade ou um grupo socioeconômico.

    Recrutamento de líderes

    Os organizadores comunitários recrutam e capacitam lideranças comunitárias em vez de se tornarem eles mesmos porta-vozes ou de agirem sozinhos em relação a uma questão. Fazem isso porque acreditam ser um direito democrático das pessoas desempenharem um papel na decisão de questões que as afetam.

                                       César Chavez aceitou o desafio de organizar trabalhadores rurais (© Reed Saxon/AP Images)

    Fred Ross foi um organizador comunitário treinado que trabalhou em alguns bairros mexicanos da Califórnia nos anos 1960 e viu as condições de vida desanimadoras e o trabalho árduo em troca de baixa remuneração. Lá conheceu César Chavez, um jovem com filhos. A princípio, Chavez mostrou-se irritado quando Ross convidou-o a se tornar um líder. Chavez mais tarde contou uma história sobre como havia convidado Ross a ir à sua casa e conhecer homens da localidade com o objetivo de intimidar e assustar Ross. “Mas ele começou a falar e, quanto mais ele falava, mais surpreso eu ficava. (...) Alguns caras que estavam bastante bêbados naquela ocasião ainda queriam dar uma lição ao “gringo”, mas nos livramos deles. O que esse sujeito falava fazia muito sentido, e eu queria ouvir o que ele tinha a dizer.”

    Ross percebeu que Chavez tinha talento para liderar sua comunidade e voltou muitas outras vezes, desafiando-o a lutar por aquilo em que acreditava, até que Chavez também acreditou ser capaz de liderar. A seguir, Chavez tornou-se um herói da justiça social liderando o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Unidos, responsável por conseguir contratos de trabalho justos com os produtores. Ele inspirou muitos movimentos sociais americanos contra a Guerra do Vietnã e pelos direitos de minorias e de mulheres.

    Os organizadores comunitários unem pessoas para definir problemas. Em vez de fornecer serviços sociais, seguem o processo de fazer as pessoas conversar entre si e agir coletivamente a respeito das questões, de ganhar confiança pessoal e habilidades cívicas no processo.

    Eles iniciam uma campanha de organização conversando com as pessoas individualmente ou em reuniões domiciliares para descobrir quem tem talento para liderança e para identificar problemas cruciais. Com o apoio do organizador comunitário, os participantes identificam valores e interesses comuns e a seguir trabalham publicamente e em conjunto em campanhas a favor de mudanças cívicas.

    Como esses novos líderes comunitários trabalham juntos, desenvolvem relacionamentos mais sólidos com as pessoas em suas próprias instituições, como igrejas, escolas e bairros. À medida que descobrem que compartilham preocupações com participantes de outras instituições ou outros bairros, desenvolvem relações vencendo abismos de religião, classe e raça. O processo de organização pode gerar poder transformador para provocar mudanças positivas em indivíduos, comunidades e na sociedade em geral.

    Dinheiro ou pessoas

Manifestação pela unidade racial realizada por um grupo de organização comunitária religiosa, em Warren, Michigan
(© Jim West/The Image Works)

    De acordo com o segundo princípio do ato de organizar-se, “a força vem do dinheiro organizado ou de pessoas organizadas”. Como as comunidades carentes não têm dinheiro, os organizadores têm de contar com as pessoas.

    Quando Ernesto Cortes retornou à sua cidade natal de San Antonio, no Texas, nos anos 1970, revoltou-se contra o fato de o bairro mais pobre da cidade com falantes de língua espanhola não ter os serviços prestados a outros bairros. De fato, as ruas ficavam tão inundadas quando chovia que até uma criança havia morrido afogada! Como organizador treinado pela Fundação de Áreas Industriais (IAF) da rede de organização nacional, Cortes foi a igrejas católicas locais e desafiou os paroquianos a pressionar a prefeitura a fazer consertos de infraestrutura em grande escala nas ruas e nos esgotos e a melhorar a segurança pública.

    Depois de obter sucesso em San Antonio, Cortes trabalhou em comunidades carentes em todo o Texas, desde a urbana Houston até as colônias ou assentamentos rurais da fronteira do México, criando um modelo de organização novo e em maior escala, unindo várias instituições e capaz de influir em questões em âmbito estadual. Eles levantaram US$ 8 milhões para o programa estadual de financiamento suplementar para 1997-98 destinado a Escolas da Aliança da IAF; criaram um fundo de US$ 12 milhões para capacitação de longo prazo para beneficiários da Assistência Temporária para Famílias Carentes (Tanf); e elaboraram um pacote de títulos de US$ 250 milhões em títulos estaduais para levar água e serviços de esgotos às colônias ao longo da fronteira Texas-México.

    Desde então, Cortes tem direcionado seus talentos para Los Angeles e, em 2004, mais de 12 mil pessoas compareceram à reunião inaugural da ONE-LA, afiliada da organização IAF, que marcou o início de campanhas destinadas a limpar o lixo tóxico próximo a escolas, melhorar a iluminação de rua e aprovar um fundo de letras hipotecárias no valor de US$ 1 bilhão.

    Os organizadores trabalham com as lideranças dos grupos para elaborar campanhas públicas eficazes e transformar problemas em questões possíveis de serem resolvidas. A Associação de Organizações Comunitárias para Reforma Agora (Acorn) tem uma rede nacional de mais de 400 mil famílias participantes em mais de 100 cidades, ativas em muitas questões.

    Por exemplo, quando o furacão Katrina deixou Nova Orleans inundada por dias, organizadores locais da Acorn, muitos dos quais haviam perdido suas próprias casas, correram por entre os abrigos de emergência, usaram celulares para encontrar membros espalhados da Acorn e dirigiram-se às autoridades municipais e nacionais exigindo que o governo fosse justo com as pessoas pobres na reconstrução da cidade. Embora não tenham sido atendidos em todas as demandas, foram bem-sucedidos na obtenção de fundos destinados à reconstrução dos bairros destruídos e ajudaram milhares de moradores a voltar a seus lares.

    A organização é toda realizada em âmbito local, mas isso não significa que continue pequena. Na cidade de San José, na Califórnia, organizadores da comunidade junto à Rede Nacional Pico de organizações comunitárias religiosas ficaram sabendo que muitas famílias estavam sem assistência médica por causa de gastos governamentais inadequados do condado com clínicas de saúde públicas. Por meio das igrejas locais, organizaram-se com o objetivo de pressionar autoridades do condado a mudar as políticas e, em seguida, difundiram a campanha para outros grupos afiliados à Pico em toda a Califórnia. Durante muitos anos, a Pico da Califórnia mobilizou uma coalizão que conseguiu US$ 13,4 bilhões em recursos extras para a educação e a saúde.

    Os grupos de organização comunitária enfrentam quase todas as injustiças sociais que afetam a qualidade de vida de pessoas de baixa e média renda: assistência médica a crianças, salários, reforma da imigração, casas a preços acessíveis, escolas de melhor qualidade, bairros seguros, capacitação para o trabalho e muito mais.

    Em dezembro de 2008, mais de 2.500 organizadores e líderes comunitários de todas as partes dos Estados Unidos reuniram-se em um fórum em Washington no qual ouviram Valerie Jarrett, assessora sênior do então presidente eleito Obama. Eles tinham sugestões para itens do plano de recuperação econômica do presidente recém-eleito: evitar execuções de hipotecas habitacionais e requerer concessões de bancos que recebem ajuda governamental; reformar o sistema de saúde americano deficitário, garantindo em especial que todas as crianças recebam cobertura; e incluir capacitação para postos de trabalho que paguem salários adequados para uma vida decente.

    Com e sem remuneração

    De onde vêm os organizadores comunitários? Eles podem ser moradores que reúnem seus vizinhos para entrar em ação, trabalhando sem remuneração, simplesmente por convicção. Com frequência, são líderes religiosos locais e estão engajados em organizações populares, em pequena escala, em quase toda comunidade americana.

    Mas organização comunitária nos Estados Unidos também pode ser uma profissão remunerada em escala maior. Esse tipo de organização comunitária é proveniente do trabalho do falecido Saul Alinsky, que aperfeiçoou sua técnica baseado na organização do sindicato radical, nos bairros de frigoríficos de Chicago dos anos 1930. Alinsky reuniu diversos grupos étnicos para lutar por prestação de serviços municipais equitativa, inclusive proteção policial contra crimes, e empréstimos bancários justos.

    Centenas de homens e mulheres de todas as idades e raças agora ganham a vida como organizadores comunitários. A remuneração vem das contribuições pagas por membros das organizações para as quais trabalham, bem como de doações de igrejas e fundações privadas. Muitos organizadores são escolhidos entre o contingente de filiados, enquanto outros frequentam treinamento realizado pelas redes de organização nacionais, em campi universitários, ou pelo movimento trabalhista.

    Os organizadores comunitários nos Estados Unidos atualmente podem trabalhar em uma única questão ou unir um grupo, como pessoas com deficiência. Porém, mais comumente, o movimento de organização comunitária de modo intencional lida com diversas questões, vários grupos, diferentes religiões e envolve muitas classes.

    O presidente Obama adquiriu experiência em organização de instituições, que forma federações de grupos-membro como igrejas, escolas e até mesmo ligas de futebol. Trabalhou na parte sul de Chicago no início dos anos 1980 antes de frequentar a Faculdade de Direito, em associação com a rede de organização nacional da Fundação Gamaliel, que fornece capacitação e supervisão para organizações em 20 estados. Depois de se formar na Faculdade de Direito, o presidente retornou a Illinois e continuou sua ligação com a organização. É sabido que ele cortejou, com sucesso, sua futura esposa, Michelle, levando-a uma sessão de capacitação em organização no porão de uma igreja.

    Durante a campanha presidencial de 2008, Obama recorreu a alguns de seus mentores da organização comunitária para criar a eficaz Campanha pela Mudança, incorporando ferramentas da organização comunitária, como o desenvolvimento de relacionamentos individuais, reuniões domiciliares e equipes de bairros.

    Na última década, a organização comunitária tem visto extraordinária expansão no número de áreas geográficas e de grupos envolvidos, nos tipos de táticas usadas e na eficácia de melhoria das políticas e dos serviços públicos. Atualmente a organização comunitária opera em grande escala, nível raramente alcançado pelos movimentos sociais americanos, com milhares de instituições e milhões de cidadãos envolvidos.

 

    As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a posição nem as políticas do governo dos EUA.

 

 

 

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